
"Apesar das ruínas e da morte, onde sempre acabou cada ilusão, a força dos meus sonhos é tão forte que de tudo renasce a exaltação e nunca as minhas mãos estão vazias." (Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia, 1944)
Epitáfio
Composição: Sérgio Britto
Devia ter amado maisBenditas
Composição: Martá’nália - Zélia Duncan
Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas
A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma
Ela agora
Mora só no pensamento
Ou então no firmamento
Em tudo que no céu viaja
Pode ser um astronauta
Ou ainda um Passarinho
Ou virou um pé de vento
Pipa de papel de seda
Ou quem sabe um balãozinho
Pode estar num asteróide
Pode ser a estrela Dalva
Que daqui se olha
Pode estar morando em Marte
Nunca mais se soube dela
Desapareceu
"Grão de mar"
Composição: Marcelo Arantes / Chico César
Lá no meu sertão planteiComposição: Edu Lobo/Chico Buarque
Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Olha
Será que ela é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz
Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida
Change your heart
Look around you
Change your heart
It will astound you
I need your lovin'
Like the sunshine
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Change your heart
Look around you
Change your heart
Will astound you
I need your lovin'
Like the sunshine
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
I need your lovin'
Like the sunshine
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Everybody's gotta learn sometime
Acabei com tudo, escapei com vida, tive as roupas e os sonhos rasgados na minha saída.
Mas saí ferido,sufocando o meu gemido, fui o alvo perfeito, muitas vezes no peito atingido.
Animal arisco, domesticado esquece o risco, me deixei enganar e até me levar por você.
Eu sei quanta tristeza eu tive, mas mesmo assim se vive, morrendo aos poucos por amor.
Eu sei, o coração perdoa, mas não esquece à toa, o que eu não me esqueci.
Eu andei demais, não olhei pra trás, era solta em meus passos, bicho livre sem rumo sem laços.
Me senti sozinha, tropeçando em meu caminho, à procura de abrigo,uma ajuda um lugar um amigo.
Animal ferido, por instinto decidido, os meus passos desfiz, tentativa infeliz de esquecer.
Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram à vendavais constantes.
Eu sei, as cicatrizes falam, mas as palavras calam, o que eu não me esqueci.
Não vou mudar, esse caso não tem solução, sou fera ferida, no corpo na alma e no coração.
Eu sei que flores existiram, mas que não resistiram à vendavais constantes.
Eu sei, as cicatrizes falam, mas as palavras calam, o que eu não me esqueci.
"Benditas"
(Mart’nália e Zélia Duncan)
Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas
A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma
O meu amor sozinho é assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela como é triste se sentir saudade
É que eu gosto tanto dela que é capaz dela gostar de mim
E acontece que eu estou mais longe dela
Que da estrela a reluzir na tarde
Estrela, eu lhe diria, desce à terra, o amor existe
E a poesia só espera ver
Nascer a primavera
Para nunca mais morrer
Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade
É que o meu amor é tanto
É um encanto que não tem mais fim
E no entanto ele nem sabe que isso existe
E é tão triste se sentir saudade
Amor, eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ai quem me dera eu pudesse ser
A sua primavera e depois morrer
Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? Cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, – que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura! Quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!
Composição: Paulinho da Viola/Hermínio Bello de Carvalho
Onde estava tanta estrela que eu não via
Onde estavam os meus olhos que não te encontravam
Onde foi que pisei e não senti
No ruído dos teus passos em meu caminho.
Onde foi que vivi
Se nem me lembro se existi
Longe de você.
Ah! Foi você quem trouxe essa tarde fria
E essa estrela pousada em meu peito
Ah! Foi você quem trouxe todo esse vazio
E toda essa saudade, toda essa vontade de morrer de amor.
Numa madrugada qualquer em qualquer praça, duas pessoas quaisquer se encontram. Um homem e uma mulher. Não sabemos o que cada um carrega, quais os motivos que os levaram até ali. Logo sabemos que é dor... Dor que não se explica... Mas que se sente fundo e maltrata.
Através de cenas curtas, os dias vão passando e à platéia são apresentados os diálogos (muitas vezes sem razão lógica) que aqueles dois conseguem travar. E nos sentimos sentados num balanço do lado deles dividindo aquele turbilhão de sensações que não conseguimos explicar nem definir.
O que será que lhes prende àquele lugar? Será apenas um grande cachecol que insiste em se amarrar a um balanço? Não... Eles encontraram um igual... Ou, talvez... Lá eles podem ser por completo... Ou o mais perto que chegam de ser completos. Por que voltar durante as madrugadas? As madrugadas são as piores horas... O silêncio é tanto que maltrata e a solidão faz questão de se mostrar presente e forte.
E todo o sentimento é dado para a platéia... Perdeu demais aquele que esteve no teatro mais não se permitiu ser manipulado por aquela história. Interpretações tão vivas, tão verdadeiras! Aqueles personagens existem! Sou eu e mais um monte de amigos que nas madrugadas difíceis saem em busca de alguma praça, como se nela estivesse uma receita para o coração ficar tranquilo.
A encenação é muito bem cuidada. Opta-se por uma espécie de jogo cinematográfico que enche os olhos da platéia. É quase palpável uma edição cinematográfica, que dá dinamismo, movimento à vida lenta daqueles seres contada de forma sem pressa. Nada ali sobra. Tudo tem seu canto, tudo está acomodado. Até nós mesmos, espectadores, nos aconchegamos do lado dEle e dEla para ouvir suas histórias.
A interpretação de Milena Pitombeira controla todos os olhares. Uma energia fortemente pulsante sai dela e toma todos. As intenções são precisas, assim como os gestos. O mais mágico é sentir como se nós fôssemos ela. Queremos pular também, precisamos de uma salvação! Jadeilson Feitosa nos mostra um homem mais cheio de dor, de silêncios. Causa arrepios nos pescoços da platéia ao enrolar freneticamente o cachecol como num último gesto. Um pouco menos de qualidade que a atriz, o que é bastante comum quando o ator assume a direção (embora eu não aceite esse justificativa). Mas Ele também tem força pra pegar o coração de quem assiste “En passant” e apertar com mãos fortes quando diz algumas frases de efeito.
A iluminação de Walter Façanha é linda (algo completamente esperado quando se trata do trabalho desse iluminador). Aceita a proposta da direção e a engrandece. As transições, o piscar de luz e os focos tão bem marcados deixa tudo com um clima de sonho ou de madrugada desperta. A sonoplastia é belíssima! Possui uma unidade completa, como se fosse feita exclusivamente para o espetáculo. Desde a primeira nota, ela é um veículo para a platéia ser puxada para a vida mostrada naquele palco.
A maquiagem, o cenário e o figurino de Yuri Yamamoto fazem jus ao que ele é para mim: um gênio. E a genialidade está na simplicidade daqueles balanços e daquele poste ao contrário (nossa, como ninguém pensou nisso antes!). A praça tem um tom onírico com aqueles elementos, mas não deixa de existir. E a platéia fica se perguntando onde existe isso, qual o limiar do palpável e da imaginação no meio daquelas loucuras. O figurino tão cinza parece que quer ser mais forte que o vermelho vivo que existe neles. Tolice... Ainda tem vida naqueles seres, mesmo que difícil de ser percebida.
Hoje, domingo, quase 24 horas depois de ter visto a peça, ainda estou submerso naquele universo. E vou ficar assim por alguns dias... Embora os personagens digam que não é o tempo que passa, e sim eles!, comigo não acontece assim. Eles estão presentes nos meus pensamentos como grandes amigos, ou, pior, como a mim mesmo. Eu sou Ele e Ela, aquela praça é minha cabeça e as madrugadas são diárias. Também busco um momento de redenção, seja num beijo, seja num grito, seja num pulo. Espero aquele momento de abandonar meu cachecol no balanço e sair... Como será que eu vou sair? ... Vivo ou morto?
Tô com vontade de chorar. E agora sinto vergonha das risadas que dei ao ver o espetáculo. Mas eram risadas como fuga, porque aquilo é ridículo, e me vejo ridículo também. Não tô sozinho... Quer dizer, estou sozinho. Não. Eu estou com minhas sensações, que foram despertadas por “En passant”, que não foi só de passagem na minha vida...
mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria tanto
agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu
seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria
tanto saber e poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda,
boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha."
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