terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Vejam Bubble! Obriguem-se a ver Bubble! Um amor entre dois homens sofre as consequências da ignorância humana na guerra entre palestinos e israelenses. Tão sensível e tão tocante, Bubble ainda tem o humor sem exageros dos amigos com quem um deles divide o apartamento. Filme sobre tolerância e provas de amor, sobre o valor do outro, sobre a esperança de que as diferenças não sejam tão diferentes a ponto de separar. E depois de verem, baixem The man I love na voz de Ivri Lider e ouçam, ouçam, ouçam...

The Man I Love

Someday he'll come along, The man I love
And he'll be big and strong, The man I love
And when he comes my way
I'll do my best to make him stay
He'll look at me and smile, I'll understand
Then in a little while, He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both won't say a word

Maybe I shall meet him Sunday,
Maybe Monday, maybe not
Still I'm sure to meet him sunday
Maybe Tuesday will be my good news day

He'll build a little home, That's meant for two
From which I'll never roam, Who would, would you
And so all else above
I'm dreaming of the man I love


Bubble (Ha-Buah, de 2006)
De Eytan Fox
Elenco: Ohad Knoller, Yousef 'Joe' Sweid, Daniela Virtzer, Alon Friedman, Zohar Liba, Tzion Baruch, Oded Leopold, Roba Blal, Shredi Jabarin

sábado, 26 de janeiro de 2008


Carolina, de Chico Buarque

"Carolina
Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar
Seu pranto não vai nada mudar
Eu já convidei para dançar
É hora, já sei, de aproveitar
Lá fora, amor
Uma rosa nasceu
Todo mundo sambou
Uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ói que lindo
Mas Carolina não viu

Carolina
Nos seus olhos tristes
Guarda tanto amor
O amor que já não existe
Eu bem que avisei, vai acabar
De tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar
Agora não sei como explicar
Lá fora, amor
Uma rosa morreu
Uma festa acabou
Nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu"

Será que o tempo tá passando e só eu não estou vendo? Por que tanta dor nesses olhos? Por que tanta dor? Por que é tão difícil fazer o novo? Por que o passado persegue tanto e a cabeça não deixa descansar? Ow, tantos porquês...






Caetano Veloso cantando "Carolina" no cd "Prenda Minha": http://www.youtube.com/watch?v=ijCwWsG_IBg

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

"Da rosa ficou um pouco."

Hoje estava meio angustiado sem saber porquê... Pressentimento ruim. Fiz esse blog há alguns dias mas ainda não havia postado. E o nome do blog é de um personagem do filme O segredo de Brokeback Mountain. Depois vi que seu intérprete, Heath Ledger, hoje, foi encontrado morto em seu apartamento. E também pensei em uma grande amiga que se foi... E também pensei em um ótimo tempo que se foi, me deixando uma dúvida se o hoje é bom ou ruim. E também me veio esse poema do Drummond, lembrando que sempre fica um pouco de qualquer coisa. Sempre fica...

RESÍDUO

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
vazio de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.




Carlos Drummond de Andrade
In A Rosa do Povo
José Olympio, 1945
© Graña Drummond