segunda-feira, 28 de abril de 2008

"Sou eu"
(Álvaro de Campos)

"(...)
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim. (...)"
"Quem é essa agora?"
(Lya Luft)

Quem é essa agora?

Que dentro de mim
Me assusta e me atrai
Sorrateira ela sou eu
Ou é alguma sombra
Que me segue como bicho
Rastejando nos calcanhares
da minha alma
Lá está, lá está
Sabe tudo, faz tudo
Eu sou apenas ferramenta
Garganta pela qual
Ela chama, chama, chama...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

"Menininha"
Vinícius de Moraes

Menininha do meu coração
eu so quero você
a três palmos do chão
Menininha não cresca mais não
fique pequinininha
nessa minha canção
senhorinha levada
batendo palminha
fingindo assustada do bicho-papão

Menininha que graça é voce
uma coisinha assim
começando a viver
fique assim
meu amor
sem crescer
porque o mundo e ruim
e ruim e você vai sofrer de repente
uma desilusão porque a vida é somente o seu bicho-papão

Fique assim,
fique assim,
sempre assim
e se lembre de mim
pelas coisas
que eu dei
e tambem não se esqueca de mim
quando você souber enfim
de tudo o que eu amei...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Parece filme...

Má-drugada, apagando mensagens no celular, tentando (não) esquecê-las, chuva forte e "Na sua estante" repetindo no meu ouvido. Claro que tô chorando...




mas logo vem outra coisa pra desviar a atenção e lembrar que o caminho é sempre pra frente.
"A quoi ça sert l'amour"
composição: indisponível

A quoi ça sert, l’amour ?

On raconte toujours
Des histoires insensées
A quoi ça sert d’aimer ?

L’amour ne s’explique pas !
C’est une chose comme ça !
Qui vient on ne sait d’où
Et vous prend tout à coup.

Moi, j’ai entendu dire
Que l’amour fait souffrir,
Que l’amour fait pleurer,
A quoi ça sert d’aimer ?

L’amour, ça sert à quoi ?
A nous donner d’la joie
Avec des larmes aux yeux…
C’est triste et merveilleux !

Pourtant on dit souvent
Que l’amour est décevant
Qu’il y a un sur deux
Qui n’est jamais heureux…

Même quand on l’a perdu
L’amour qu’on a connu
Vous laisse un gout du miel -
L’amour c’est éternel !

Tout ça c’est très joli,
Mais quand tout est fini
Il ne vous reste rien
Qu’un immense chagrin…

Tout ce qui maintenant
Te semble déchirant
Demain, sera pour toi
Un souvenir de joie !

En somme, si j’ai compris,
Sans amour dans la vie,
Sans ses joies, ses chagrins,
On a vécu pour rien ?

Mais oui! Regarde-moi !
A chaque fois j’y crois !
Et j’y croirait toujours…
Ça sert à ça l’amour !

Mais toi, tu es le dernier !
Mais toi’ tu es le premier !
Avant toi y avait rien
Avec toi je suis bien !

C’est toi que je voulais !
C’est toi qu’il me fallait !
Toi que j’aimerais toujours…
Ça sert à ça l’amour !

domingo, 13 de abril de 2008

Na má-drugada, muitas vezes, encontramos ótimas companhias... Os poetas sempre são presentes.


Ausência

Eu vou deixar que morra em mim,
o desejo de amar os teus olhos que são doces,
porque nada te poderei dar,
senão a mágoa de me veres eternamente exausta.
No entanto, a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida,
e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto,
e em minha voz, a tua voz.
Não te quero ter, porque em meu ser tudo estaria terminado,
quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados,
para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada,
que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei,
tu irás e encostarás a tua face em outra face,
teus dedos enlaçarão outros dedos,
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite,
porque eu encostei a minha face na face da noite,
e ouvi a sua fala amorosa,
porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço,
e eu trouxe até mim, a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém,
porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, dos céus, das aves, das estrelas,
serão a tua voz ausente,
a tua voz presente,
a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes
Primavera
Composição: Carlos Lyra / Vinícius de Moraes

O meu amor sozinho é assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela como é triste se sentir saudade
É que eu gosto tanto dela que é capaz dela gostar de mim
E acontece que eu estou mais longe dela
Que da estrela a reluzir na tarde
Estrela, eu lhe diria, desce à terra, o amor existe
E a poesia só espera ver
Nascer a primavera
Para nunca mais morrer
Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade
É que o meu amor é tanto
É um encanto que não tem mais fim
E no entanto ele nem sabe que isso existe
E é tão triste se sentir saudade
Amor, eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ai quem me dera eu pudesse ser
A sua primavera e depois morrer

"...Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido..."
(Pablo Neruda)

sábado, 12 de abril de 2008

má-drugada...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Monólogo de Orfeu

Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? Cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, – que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura! Quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Valsa da Solidão, com Roberta Sá


Composição: Paulinho da Viola/Hermínio Bello de Carvalho

Onde estava tanta estrela que eu não via
Onde estavam os meus olhos que não te encontravam
Onde foi que pisei e não senti
No ruído dos teus passos em meu caminho.

Onde foi que vivi
Se nem me lembro se existi
Longe de você.

Ah! Foi você quem trouxe essa tarde fria
E essa estrela pousada em meu peito
Ah! Foi você quem trouxe todo esse vazio
E toda essa saudade, toda essa vontade de morrer de amor.